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sexta-feira, 19 de abril de 2024

HEITOR CHICHORRO (07/07/1944 - 18/04/2024)


 

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O mundo está a ficar  mais imbecil e absurdo; e a vida, cada vez mais incompreensível e insuportável. Heitor Chichorro morreu ontém.

Não éramos muito próximos. A última vez que estivemos juntos foi quando, sempre pródigo e generoso, se deu ao trabalho de visitar a exposição que fiz no Tubo d'Ensaio de Artes, em 2012. Mas ia sabendo dele através do Facebook, onde ele partilhava algumas das suas maravilhas. Chichorro trabalhou sempre, até ao fim de uma vida admirável. Dono de um sentido de humor categórico e desinteressado, extravagante (pouco dado a reticências, eufemismos piedosos ou encomiasmos superlativos) tenho para com ele uma inesquecível, e impagável, dívida de gratidão, que expliquei aqui

Há poucos homens assim, que eu respeite sem reservas. Agora ainda menos.

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terça-feira, 9 de abril de 2024

O (novo) secretário dos assuntos “pralamentares”


 

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O novo secretário d'estado dos assuntos parlamentares não é novo. Aliás como o governo. (num país que vive, como se sabe, num regime de alterne, um novo governo é sempre uma espécie de versão mais ou menos refrescada do anterior).

Digamos então que Carlos Abreu Amorim é assim um rapaz da minha idade. Para as crónicas mais amáveis ele é um sujeito polémico; para as outras é apenas um gajo tóxico. Tudo isto porque tem por costume tuitar bacoradas racistas a propósito de tudo e de umas botas.

Eu cá acho, no entanto, que Carlos Abreu Amorim é um sujeito dotado do mais requintado, equívoco, retorcido, talvez perverso (ou pervertido) ou apenas desmiolado, sentido de humor.

Eu explico. Na página onde explana com fulgor e panache todo o esplendor da sua visão imbecil da vida, @cabreuamorim usa sans soucis (isto é, sem jamais me ter pedido amável autorização ou sequer me ter perguntado cortezmente quanto custa) a caricatura que lhe fiz, e que editei aqui, em 2013. Presumo que, sendo ele representante eleito de uma classe que tanto preza a sacro-santidade do direito à propriedade privada, isto configure algo que lhe é muito grato e que os marxistas chamam, com propriedade, apropriação primitiva (Proudhon chamava-lhe, mais sucintamente, um roubo).

Devo sublinhar que isto não me choca nem um bocadinho; nem considero sequer que seja um abuso intolerável. Eu gosto de partilhar. Sempre votei nos comunistas.

Mas acho delicioso - impagável - que ele se reveja tanto nesta caricatura que tenha feito dela o seu emblema. Isso sim, ninguém me tira.

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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Retrato de grupo pralamentar

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Embora a isso nunca me tivesse proposto, pelo menos de forma consciente, tenho vindo a – este é um blogue de desenhos - desenhar, redigir e editar, com as minhas tamanquinhas (isto é, dentro das minhas muitas e pobres limitações) o meu próprio Album de Glórias. Trata-se, sucintamente, de uma espécie de crónica impressiva (uma colecção de cromos – retratos capitosos, caricaturas – ilustrada ou não com textos mais ou menos copiosos mas sempre judiciosos) sobre os elementos mais destacados ou notórios da nossa garbosa classe dirigente.

Depois da crónica pasmada do desinfeliz e acantinflado governo de maioria absoluta de António Costa, na desastrada XV legislatura, eis-nos, passada a página, em novo capítulo, noutra legislatura.

A nova legislatura, a XVIª - com a sua nova classe dirigente, o seu governo também novo e novas correlações de forças - não desfazendo, também promete.

Se a vida nos dá limões, há que espremê-los, façamos limonada.

Ao contrário, porém, do costume, em que privilegio o retrato individual, com estudo fisiognomónico da personalidade e das suas desvairadas idiossincrasias, dou início a este novo capítulo com um, nem por isso menos ambicioso nem menos sucinto e circunspecto, retrato “de grupo”. Um grupo parlamentar. O do partido Chega.

Trata-se - desgraçadamente, ao que me dizem - de um “grupo” que veio para ficar. É precisamente por isso que aqui jaz.

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Nota de rodapé: a inclusão de um ”retrato de grupo” neste “álbum” não impede a futura edição de retratos individuais dos seus mais vistosos integrantes - em função, como é óbvio, dos seus mais que previsíveis destacados desempenhos.

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

outra vez a sífilis ou a gonorreia.




Para não variar demasiado, os donos da comunicação social, o jornalismo de merda e os seus especialistas convidados decidiram outra vez pelos portugueses quais são as suas duas opções. 

A escolha que eles propõem, também para não variar, é outra vez entre a sífilis e a gonorreia. (não imagino por que obscuros e bizarros processos de breinssetormingue mentecapto é que eles chegaram a esta sugestão de escolha se, entre as várias outras opções possíveis também havia o escorbuto, a peste negra, a febre amarela, a diarreia incontinente e até, imaginem, a vida simples, digna e decente).

Para isso organizaram e promoveram com trombetas e violinos “o grande debate”, um combate definitivo, uma espécie de grande final tira-teimas.

Claro que também organizaram, durante toda a santa tarde, um grande pré-match onde as mais rutilantes vedetas do jornalismo de merda, acolitadas por igualmente renomados especialistas convidados, foram comentando os prognósticos antecipados até ao pentelho esmiuçando até ao nervo e esburgando até ao osso as tácticas e as estratégias dos colossos que, à noite, iriam dirimir, ao vivo e a cores, a temática da problemática que, para eles, tanto desinquieta os portugueses.

É óbvio que depois do grande match, pla noite dentro, também fizeram o pós-match, onde os mesmos especialistas de merda protagonizaram penosos, redundantes e intermináveis debates para aferir qual dos formidáveis antagonistas tinha afinal vencido o pleito.


É claro que não vi. Nem o pré-match, nem o match, nem o pós-match. Estive a ler (A época da caça, Andrea Camilleri, sempre inteligente e entranhadamente divertido). Por isso não faço a menor ideia, nem tenho a mínima curiosidade, de saber qual foi o vencedor apurado em tal concílio de especialistas da vida sórdida. Já sei que fui eu que perdi. Eu e a imensa minoria dos que preferiam apenas uma vida simples, digna e decente.